quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Depoimentos de pessoas receptoras de orgãos

Novas regras





O Ministério da Saúde divulgou que pessoas com menos de 18 anos passarão a ter prioridade para receber órgãos de doadores da mesma faixa etária. Segundo o ministério, isso se dá devido à maior expectativa de vida desses pacientes.

De acordo com o novo regulamento do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que foi publicado em Diário Oficial. De acordo com as novas regras, os doadores que tenham alguma doença transmissível poderão doar para pacientes que tenham o mesmo vírus.

A partir de agora o SUS (Sistema Único de Saúde) vai financiar a retirada e o processamento de pele, que é uma ação inédita no sistema. O transplante de pele é uma modalidade de tratamento salvadora de vidas, inclusive de grandes queimados. Ela não é propriamente um transplante, é uma espécie de curativo biológico, uma casa de passagem até que a pessoa consiga se recuperar e produzir de novo a sua própria pele.

Crônica de um transplante


"Nunca imaginei que minha saúde fosse me decepcionar. Tinha muitos sonhos para o futuro, e, apesar das adversidades, enfrentei as intempéries que a vida me propôs. Entretanto veio o golpe fatal: irei precisar de um temido e complicado transplante dos dois pulmões, e somente essa seria a saída para a melhoria da minha qualidade de vida, que, durante esse último ano, tem sido bastante difícil.

No início foi um choque: lágrimas e lágrimas rolaram na nossa família e entre os amigos. Mas foi só o início de um processo de grandes mudanças na minha vida, de reafirmar outros valores escondidos na minha personalidade. Foi como reerguer um prédio: no pilar direito foi erguido um trabalho de reabilitação física na Santa Casa, responsável por eu voltar a andar calmamente e fazer algumas pequeníssimas atividades diárias. No pilar esquerdo, o apoio dos meus pais, irmãos, parentes e amigos. A estrutura do meu prédio está pronta, só falta “trocar a ventilação”.

Sorte minha que o prédio é jovem e o trabalho foi pouco. Ela agora será desviada para outra angústia: encontrar um doador compatível. Infelizmente, conto com a sorte para mudar de vida. Eu e aproximadamente 2500 pessoas. Dependemos de um gesto de carinho das famílias dos doadores, do profissionalismo e do comprometimento dos médicos e profissionais da área, para que se sensibilizem com a nossa causa, pois só queremos poder voltar a caminhar, correr, dirigir, enxergar, viajar, coisas que qualquer um tem direito.

Assim digo: foi um alívio entrar para a lista de transplantes. Um alívio? Sim, tenho a chance de liquidar o sufoco da falta de ar e de poder jogar o tão sonhado futebolzinho com os meus amigos. Estou com a oportunidade de reconstruir a minha moradia corporal e para isso preciso de um doador. E isso irá acontecer. Deus vai me ajudar."

Ajude-me a espalhar o meu exemplo, que ele sirva para a conscientização. Propague nosso lema: "Doação de Órgãos: um ato de amor à vida" dizendo à sua família e ao seu médico que você é um doador. Mande esse e-mail para quantas pessoas forem possíveis. Agradeço seu carinho e a sua atenção.
Luís Fernando Kalife Júnior
Estudante de Letras da UFRGS
Texto publicado no Caderno Vida – Jornal Zero Hora – 26/01/2008

Oração de um doador desconhecido



Não chamem o meu falecimento de leito da morte, mas de leito da vida.
Dêem a minha visão ao homem que jamais viu o raiar do sol, o rosto de uma criança ou o amor nos olhos de uma mulher.
Dêem o meu coração a uma pessoa cujo coração apenas experimentou dias infindáveis de dor.
Dêem o meu sangue ao jovem que foi retirado dos destroços de seu carro, para que ele possa viver para ver os seus netos brincarem.
Dêem os meus rins às pessoas que precisam de uma máquina para viver de semana em semana.
Retirem os meus ossos, cada músculo, cada fibra e nervo do meu corpo e encontrem um meio para fazer uma criança inválida caminhar.
Explorem cada canto do meu cérebro.
Retirem as minhas células, se necessário, e deixem-nas crescerem para que, um dia, um menino mudo possa ouvir o gritar em um momento de felicidade ou uma menina surda possa ouvir o barulho da chuva de encontro à sua janela.
Queimem o que restar de mim e espalhem as cinzas ao vento, para que elas ajudem as flores a brotarem.
Se tiverem que enterrar algo, que sejam meus erros, minhas fraquezas e todo o mal que fiz aos meus semelhantes.
Dêem os meus pecados ao diabo.
Dêem a minha alma a Deus.
Se, por acaso, desejarem lembrar-se de mim, façam isso com ação ou palavra amiga a alguém que precise de vocês.
Se fizerem tudo o que pedi, estarei vivo para sempre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Igreja no Brasil posiciona-se sobre doação de orgãos




O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reunido em Brasília, divulgou uma nota esclarecendo a posição da Igreja Católica sobre a doação de órgãos de pessoas com morte encefálica comprovada.

"Vemos na doação voluntária de órgãos um gesto de amor fraterno em favor da vida e da saúde de próximo. É uma prova de solidariedade, grandeza e espírito e nobreza humana", afirma a nota assinada pelo presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, e pelo secretário-geral da entidade, Dom Dimas Lara Barbosa.

Os bispos recordam que a posição da Igreja está expressa no Catecismo da Igreja Católica que classifica como "legítima e meritória" a doação gratuita de órgãos após a morte. Lembram que esta mesma posição é assegurada também pela encíclica Evangelium vitae.

"A doação de órgãos não contraria à fé cristã na ressurreição final, pois 'Deus dá vida aos mortos e chama à existência o que antes não existia' (Rm 4,17)", sublinha a nota.

A CNBB incentiva as pessoas e as famílias "a que, livre, conscientemente e com a devida proteção legal, doem órgãos como gesto de amor solidário em consonância com o evangelho da vida". A nota chama a atenção, no entanto, para respeito aos princípios éticos que devem orientar esta prática. "A doação de órgãos exige rigorosa observância dos princípios éticos que proíbem a provocação da morte dos doadores, a comercialização e o tráfico de órgãos".

Entrevista do Dr. Drauzio Varella ao Dr. Elias David Neto sobre o tráfico de orgãos


Tráfico de órgãos

Drauzio – Algumas vezes, os jornais veiculam notícias sobre o tráfico de órgãos. Isso de fato acontece?

Elias David Neto – O governo americano comandou uma investigação em vários países do mundo para averiguar casos de rapto de crianças e adultos para a remoção de órgãos que culminou num documento chamado “Rapto de Crianças para Transplante – uma Lenda Urbana Moderna”.Nesse documento, o investigador do FBI relata que a mesma história é repetida igualzinho em todos os países. Alguns jornalistas sequer mudam o nome das personagens. O João brasileiro é o John americano e o Juan espanhol; a Maria do Brasil é a Mary dos Estados Unidos e a Marie da França. O rapto de pessoas para extrair seus órgãos é a lenda urbana moderna.Denúncias sem comprovação sobre o trafico de órgãos geram desconfiança na população e espalham o medo de que o sistema não funcione. O Sistema de Transplante Brasileiro é transparente e um dos mais confiáveis do mundo. Nunca houve em nenhuma delegacia do país relato, notificação ou registro de alguém que tivesse sido raptado e devolvido depois sem um órgão. Fala-se muito em tráfico de órgãos. Isso não existe como não existe a possibilidade de furar o sistema de lista única. Desafio um jornalista investigativo a demonstrar que pode furá-la. Desafio-o também a tornar público o resultado de sua investigação, qualquer que seja ele. Por certo, isso incentivaria e muito a doação de órgãos.

Drauzio – Há uma CPI em andamento sobre o tráfico de órgãos no Brasil?

Elias David Neto - No Brasil, está instalada uma CPI sobre o tráfico de órgãos que na verdade investiga o tráfico de pessoas. Se alguém sai do país para doar um órgão em outro lugar em troca de vantagens não é responsabilidade do Sistema Nacional de Transplante. Foi uma decisão individual e particular, embora faça parte do tráfico que corrompe as pessoas. Minha esperança é que essa CPI investigue fundo e, se a conclusão for que não há tráfico de órgãos, a imprensa seja convocada para divulgar os resultados porque assim estará contribuindo positivamente para a transplantação brasileira de órgãos .

O que a igreja pensa da doação de órgãos?

Transplantar um órgão para curar um doente (transfusão, transplante de medula, de pele, de rins, do coração ...) é um ato médico cuja finalidade é boa em si própria. No entanto, esta prática só pode ser feita mediante certas condições.

Quando se tratar de uma doação feita por uma pessoa viva (sangue, medula, rim) deve ser evitada qualquer transação comercial. Ninguém pode dispor do seu próprio corpo ou do de outrem para com ele ganhar dinheiro, mesmo que seja para prestar um serviço. A doação de esperma ou de óvulos é de outro tipo; o objetivo não é curar mas transmitir vida, e esta só deve ser feita na relação conjugal dos esposos; esta doação é contrária ao respeito pelo vínculo conjugal, mesmo que seja por amor.

Em relação ao corpo de uma pessoa que já morreu, ninguém pode tirar-lhe nenhum órgão contra a vontade da família ou se, em vida, a própria pessoa se manifestou contra.

No que diz respeito a alguém prestes a morrer ou em estado de coma profundo, não se podem tirar órgãos sem se ter a certeza de que a pessoa está morta (segundo a legislação francesa são necessários dois eletroencefalogramas feitos com 24 horas de intervalo). Qualquer prática que contrarie estas regras opõe-se ao respeito que é devido a cada pessoa.


Testemunho

Vítima de uma disfunção medular, o V nosso filho mais velho morreu quando tinha seis anos. O seu irmão mais novo tinha a mesma doença e nós procuramos desesperadamente um doador de medula que fosse compatível com a do nosso filho.
Foi então que encontramos um jovem padre, que nos ajudou muito durante deste problema. Tornamo-nos fiéis participantes de um pequeno grupo de oração. Aí, muitas vezes no meio de lágrimas, rezávamos regularmente pelo nosso filho.
Um dia, a minha mulher partilhou comigo a sensação que tinha de que devíamos ter outro filho. Eu permanecia indeciso, pois estava muito marcado por todos estes problemas. Com o nosso amigo padre, rezamos e pensamos muito. Por fim, decidimos entrar pelo caminho da confiança e entregar esta gravidez a Deus. Novo meses depois, a minha mulher deu à luz uma menina. Os testes de compatibilidade da medula espinal do bebê com a do seu irmão, eram positivos ... Vimos a maravilhosa ação do Senhor. Ele fortaleceu a nossa fé, pois permitiu-nos ver o futuro do nosso filho com confiança. No entanto o seu estado agravava-se, o transplante tornava-se urgente.
Christophe foi para o hospital ... Recebeu em boas condições, o transplante de medula que os médicos retiram da sua irmã. Depois de alguns meses de convalescência e de alguns momentos difíceis, o nosso filho recuperou as forças e as idas ao hospital foram-se espaçando.
Hoje ele está salvo: brinca, corre e vai à escola normalmente. Nós estamos sempre em ação de graças porque tudo isto foi obra de Deus, presente e agindo no meio de nós.

Thierry

Feira de Santana pode ser referência em transplante de órgãos

Os funcionários do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana, estão recebendo treinamentos e o hospital poderá realizar transplantes ainda este ano.

Durante entrevista ao repórter Paulo José no programa Acorda Cidade na rádio Sociedade de Feira de Santana, o coordenador estadual de transplantes Eraldo Moura informou que Feira de Santana possui várias características para a implantação do sistema de transplantes nas cidades do interior da Bahia. Além de Feira de Santana, o sistema trabalha também com Vitória da Conquista, Ilhéus, Juazeiro, Barreira e Itabuna.

Ele explicou que o fato da cidade ter mais de meio milhão de habitantes, um alto grau de organização, vários cursos universitários na área de saúde e hospitais de referência no Estado como o Hospital Geral Clériston Andrade e futuramente o Hospital da criança faz de Feira de Santana uma cidade que pode ser tornar referência no Estado em transplantes de órgão. Sendo assim, Feira de Santana ajudará a sustentar o sistema não apenas com a captação de órgão, mas também com a realização de transplantes.

Atualmente Feira de Santana tem 700 pacientes renais. 276 pessoas aguardam na fila por um transplante . Na Bahia, o número de transplantes de órgãos está bem abaixo dos Estados do Sul e até mesmo do Nordeste. Segundo o Ministério da Saúde, foram realizados no Estado um total de 85 transplantes de órgãos no período de janeiro a julho deste ano.

No ano passado Feira de Santana fez apenas seis transplantes de órgão. De acordo com Eraldo Moura o transplante é feito a partir da permissão da família que perdeu um ente com morte encefálica. O coordenador ressaltou que é muito importante que as pessoas comuniquem aos seus familiares que quer ser um doador de órgãos e a mídia tem um papel fundamental na conscientização das pessoas no que se diz respeito a doação de órgãos.

Neste ano, até agora não foi feito nenhum transplante em Feira de Santana, mesmo possuindo sete casos de morte encefálica registrados devido a falta de autorização da família, conforme informações da coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgão e Tecido para Transplante (CIHDOTT), Fernanda Cláudia Silva Santos.


Andréa Trindade


Fonte: Acorda Cidade

Transplante de órgãos pelo SUS tem novas regras

O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou que os cerca de 63 mil pacientes que aguardam na fila de espera de transplante de órgãos no Brasil vão ganhar, até o final deste ano, benefícios e incentivos com o novo regulamento do SNT (Sistema Nacional de Transplantes).

As principais mudanças são um reajuste dos valores pagos às equipes ou hospitais por procedimentos realizados, e a incorporação do financiamento de novas técnicas para o transplante de pele.

"A partir de agora o SUS (Sistema Único de Saúde) vai financiar a retirada e o processamento de pele, que é uma ação inédita no sistema. O transplante de pele é uma modalidade de tratamento salvadora de vidas, inclusive de grandes queimados. Ela não é propriamente um transplante, é uma espécie de curativo biológico, uma casa de passagem até que a pessoa consiga se recuperar e produzir de novo a sua própria pele", afirmou à Folha Online a coordenadora do SNT, Rosana Nothen.

A especialista também disse que, atualmente, transplantes de "coberturas sintéticas" para uma pessoa que tenha sofrido uma queimadura grande são caros e custam em média R$ 20 mil aos hospitais. "Muitas pessoas sairão beneficiadas com o novo procedimento", afirmou.

Investimento

De acordo com Temporão, para a implantação das novas regras de transplantes serão investidos R$ 24,1 bilhões neste ano e ano que vem. Uma das principais mudanças é que o valor pago à equipe envolvida nos procedimentos de captação dos órgãos vai dobrar.

O novo regulamento aponta que a retirada de um coração, que tinha um custo de R$ 585, passará a ter uma verba de R$ 1.170 por procedimento.

Entre as novas ações também estão a entrevista com a família do doador e a manutenção dos prováveis doadores.

"Temos dois desafios principais. Um é sensibilizar a sociedade a ser um doador potencial. O outro é ampliar a captação de órgãos e, portanto, a realização de transplantes", afirmou Temporão.

O ministro ainda afirmou que será criado até o final do ano um banco de dados informatizado, onde os pacientes poderão consultar sua posição na lista de espera e a equipe médica deverá manter os prontuários atualizados. "Assim a atualização será mais ágil", disse.

Informações da Folha Online

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Legislação sobre o Sistema Nacional de Transplantes


O Brasil possui hoje um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. Com 548 estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes médicas autorizados a realizar transplantes, o Sistema Nacional de Transplantes está presente em 25 estados do país, por meio das Centrais Estaduais de Transplantes.

Para ser um doador, não é necessário fazer nenhum documento por escrito. Basta que a sua família esteja ciente da sua vontade. Assim, quando for constatada a morte encefálica do paciente, uma ou mais partes do corpo que estiverem em condições de serem aproveitadas poderão ajudar a salvar as vidas de outras pessoas. Lembre-se que alguns órgãos podem ser doados em vida. São eles: fígado, rim, pâncreas e medula óssea.

Drogas imunossupressoras

Hoje em dia temos um arsenal de drogas com potencial imunossupressor. Quanto mais distintos forem os HLAs do doador e do receptor, mais drogas e maiores doses são necessárias para se evitar a rejeição.

Excetuando-se os gêmeos idênticos, todos os transplantados deverão tomar drogas imunossupressoras para o resto da vida. Nos primeiros meses as doses são mais altas, diminuindo progressivamente ao longo do tempo, sem nunca, porém, suspendê-las definitivamente.

Em geral, usa-se uma combinação de 2 ou 3 das seguintes drogas:

- Ciclosporina
- Tacrolimus
- Azatioprina
- Micofenolato mofetil (MMF)
- Rapamicina (Sirolimus)
- Corticóides

Como era esperado, os pacientes transplantados apresentam uma sistema imune comprometido. São pacientes mais propensos a infecções e sepse, e ao surgimento de neoplasias, já que o nosso sistema imune muitas vezes consegue reconhecer uma célula cancerígena inicial e eliminá-la.

Além do uso contínuo de drogas, o transplantado deve ser seguido regularmente pela equipe transplantadora, com consultas frenquentes para se tentar avaliar a função do órgão tranplantado e identificar precocemente sinais de rejeição.

O diagnóstico de morte cerebral é confiável?


Há o receio de que um diagnóstico errado de morte cerebral possa desligar os aparelhos de uma pessoa ainda com chances de recuperação. A morte encefálica é um processo irreversível. Os protocolos para sua confirmação são rigorosíssimos. São inclusive realizadas pesquisas de drogas que poderiam simular uma falta de função cerebral.

Um dos exames realizados é a angiografia cerebral, onde se detecta a falta de vascularização no cérebro. Reparem na foto. A imagem da direita mostra um cérebro normal com vários vasos irrigando o cérebro. Comparem com a imagem esquerda, onde não se nota nenhum tipo de irrigação sanguínea. Este segundo é um cérebro morto.

Existem alguns mitos e preconceitos em relação a doação de órgãos

Algumas famílias usam motivos religiosos para não autorizar a doação. Na verdade, não há nenhuma religião, nem mesmo as testemunhas de Jeová (deixou de considerar o transplante de órgãos como canibalismo em 1980), que se oponha ao transplante de órgãos.

Não sou religioso, mas acho difícil imaginar que Deus prefira ver um órgão apodrecer e servir de alimentos para vermes, do que fazer com que o último ato de um ser humano seja salvar uma ou mais vidas, tirar pessoas das máquinas de hemodiálise ou devolver a visão a quem não enxerga. Difícil defender que um ato de tamanha bondade seja errado.

Algumas pessoas temem que a retirada de vários órgãos deforme o corpo doente falecido. A remoção dos órgãos deixa a mesma cicatriz que uma cirurgia deixaria. Não há nenhuma diferença para o velório, que pode ser inclusive com urna aberta.

Existe também um medo de que os médicos não se esforcem para salvar um doente sabendo que este é um potencial doador. Isso é um absurdo! Os médicos que trabalham nas emergências não têm qualquer relação próxima com as equipes de transplantes e não recebem nenhum tipo de incentivo ou vantagem se houver uma doação de órgãos.

Além disso, durante o procedimento de ressuscitação, quase nunca temos conhecimento de detalhes do histórico clínico do doente para sabermos se este poderia ser doador ou não. Só depois de constatado a morte cerebral é que o paciente passa pela bateria de testes para avaliar a possibilidade der ser doador. E a maioria das pessoas mortas não servem para doadores.

Existe um outro mito, que fala sobre o tráfico de órgãos. Quem nunca recebeu o e-mail do cara que acordou em uma banheira de gelo sem os dois rins. O transplante de órgãos é um dos procedimentos mais complexos da medicina. A quantidade de profissionais e material necessário e muito grande. Não é um aborto que pode ser feito em qualquer "trambiclínica". Além disso, um órgão retirado desta maneira não passaria pela tipagem do HLA e pelo cross-match já que não é qualquer laboratório que tem capacidade para realizar esse exame. Um processo destes envolveria uma quantidade enorme de pessoas o que provavelmente nem seria lucrativo para os marginais.

Como escolher o doador?

Obviamente alguns transplantes como coração e pâncreas só podem ser realizados por doador morto. Não se pode tirar o coração ou pâncreas de ninguém. Porém, no caso do transplante renal, uma pessoa viva pode ser doadora. Conseguimos viver perfeitamente apenas com um rim. Isso favorece a doação entre familiares e faz com que o transplante renal seja o que tenha maior taxa de sucesso.

Muitas vezes um paciente a espera do transplante tem vários doadores na família. O que fazemos é mapear geneticamente todos eles, e ao final, aquele potencial doador que for geneticamente mais parecido como receptor será o doador preferencial. Se por algum motivo aquele doador preferencial tiver algum problema e não possa doar, passamos para o segundo mais compatível, e assim por diante.

O transplante realizado entre vivos não tem fila. Ele é feito assim que se conseguir um doador voluntário e todos os exames pré-operatórios estejam prontos. Esse processo demora em média 6 meses se não houver nenhum problema.

Quando o paciente não tem doadores voluntários ou quando o transplante é de algum órgão que não permita a doação em vida, o processo é diferente. Enquanto que no transplante entre vivos escolhe-se o doador, no transplante cadavérico, quem é escolhido é o receptor. Explico.

Todos os pacientes que encontram-se na fila de transplante passam pelo mapeamento do HLA. Seus dados ficam em um rede informatizada controlada pela instituição responsável pelo transplante de órgãos. Quando há confirmação de morte cerebral de um potencial doador, a equipe de transplante é acionada para fazer o mapeamento genético deste doador cadáver. Este HLA é então jogado no banco de dados informatizado que automaticamente seleciona entre todos na fila, aquele que é geneticamente mais parecido com o doador falecido. Neste momento o doente escolhido recebe uma ligação do centro de transplante informando que ele será transplantado nas próximas horas.

Existe ainda um exame chamado de teste de compatibilidade ou "cross-match". Mistura-se o sangue do doador com o do receptor para ver se alguma reação que indique a presença de anticorpos pré-formados contra as células do doador. A presença destes anticorpos contra-indica o transplante com esse doador sob o risco de uma rejeição fulminante, não importando o quão semelhante é o HLA.

Como ocorre a rejeição?

O transplante de órgãos é talvez o procedimento mais "anti-natural" da medicina. Se há algo que a natureza não está preparada é para a troca de órgãos entre seres. Na verdade, milhões de anos de evolução jogam contra esse procedimento. Todos os seres que vivem no planeta, só estão vivos pelo fato de seus organismos terem aprendido a reconhecer e a combater células e moléculas estranhas que invadam nosso organismo. O corpo humano (e o de milhares de outras espécies) aprendeu que tudo que vem de fora é potencialmente fatal e deve ser combatido. E isso foi verdade até o momento em que o homem resolveu transplantar órgãos.

Nosso sistema imune é programado, desde a época embrionária, para diferenciar os genes de nossas células dos genes de organismos invasores. O nosso corpo não sabe distinguir o que é perigoso do que benéfico, por isso, se comporta da mesma maneira com um órgão transplantado ou com uma bactéria. Ele apenas ataca tudo que não for "original de fábrica".

Existe um grupo de genes nos humanos, chamado de HLA, que são os responsáveis por essa diferenciação entre o que é nosso e o que é estranho. É como se esses genes colocassem um crachá com foto em todas as nossas células.

Toda vez que uma célula de defesa circulante no sangue (glóbulos brancos) encontra uma célula com um "crachá" diferente, soa um alarme no sistema imune que convoca um batalhão de outros glóbulos brancos para atacar e destruir este ser invasor.

A chamada rejeição do transplante nada mais é do que nosso sistema de defesa destruindo um órgão transplantado. Para o nosso sistema imune, aquele rim ou coração transplantados, são um conjunto de células invasoras que podem estar colocando nossa vida em risco. A ordem é simples: destruir tudo que for diferente ao que existia quando nascemos.

Como gêmeos idênticos são geneticamente iguais, o organismo o reconhece o órgão transplantado como próprio e não como um invasor.

Todos os doentes transplantados, portanto, precisam ser medicados com drogas que inibam nosso sistema imune. As drogas basicamente deixam as células de defesa confusas. Elas olham um "crachá" diferente mas não notam a diferença, ou notam mas não conseguem convocar reforços para atacar o invasor.

Isso é muito bom para o órgão transplantado, mas é péssimo caso aconteça uma invasão por bactérias ou vírus. O desafio da medicina é impedir a rejeição do órgão sem atrapalhar o sistema de defesa contra germes invasores. Por isso, o transplante é um procedimento extremamente complexo.

As drogas atuais agem no sistema de defesa mas não consegue enganá-lo por muito tempo. O processo de rejeição é lentificado, mas sempre ocorre. Nos primeiros transplantes realizados no início do século XX, a rejeição ocorria imediatamente sem que o órgão sequer funcionasse. Há alguns anos, as drogas conseguiam evitar a rejeição por pouco tempo. Até o final da década de 80, a maioria dos pacientes perdia o órgão transplantado com 1 ano. Hoje em dia, um transplante é considerado um sucesso se durar pelo menos 10 anos. Existem casos de pessoas com até 30 anos de transplante.

Todo doente transplantado precisa tomar medicamentos imunossupressores para o resto da vida.

Quanto mais parecido geneticamente forem o doador e o receptor, menos drogas serão necessárias e mais tempo o órgão transplantado costuma durar.

Receber um órgão de um irmão, mesmo que não gêmeo, é melhor do receber um órgão de um pai, que é muito melhor que receber um órgão de um primo, que por sua vez é melhor que receber um órgão de uma pessoa sem nenhuma relação familiar. Quanto mais distante geneticamente forem o doador do receptor, mais intensa é a resposta imune.

Antes de todo o transplante é realizado então o mapeamento genético do doador e do receptor. Quanto mais genes da classe HLA em comum existir, maior é a chance de sucesso de um transplante.

Além do HLA, o tipo sanguíneo também é importante para o transplante. As mesmas regras da transfusão sanguínea, valem para o transplante de órgãos.


•se o paciente tem tipo sanguíneo O, só poderá receber órgãos de pessoas com o sangue tipo O;


•se o paciente tem sangue tipo A, poderá receber órgãos de pessoas com o sangue tipo A ou O;


•se o paciente tem sangue tipo B, poderá receber órgãos de pessoas com o sangue tipo B ou O;


•se o paciente tem sangue tipo AB, poderá receber órgãos de pessoas com o sangue tipo AB, A, B ou O;

Neste caso, o fator RH (tipo negativo ou positivo) é pouco importante.

Depoimento de uma pessoa que está na fila de espera

História do transplante


O primeiro relato de um transplante de órgão data do século II A.C. na Índia. Desde essa época já se transplantava pele de uma região do corpo para outra como tratamento de queimaduras e feridas graves.

Porém, o transplante de órgãos entre indivíduos diferentes só foi possível a partir do século XX. Depois de séculos de fracassos, o primeiro transplante de sucesso ocorreu em 1954 nos E.U.A. Foi um transplante renal realizado entre 2 irmãos gêmeos idênticos.

Nesta época já se sabia que o sistema imune impedia a troca de órgãos entre seres, e a inexistência de protocolos de drogas imunossupressoras limitava os transplante à aqueles que possuíam irmãos gêmeos. Como se sabe, gêmeos idênticos são geneticamente iguais, assim como um clone.

Na mesma década de 1950, duas novas drogas imunossupressoras foram descobertas. Os corticóides (cortisona) e a azatioprina passaram a ser usadas, abrindo espaço para a evolução do transplante entre indivíduos diferentes.

Como funciona o sistema de captação de órgãos

Doação de orgãos

A carência de doadores é ainda um grande obstáculo para a efetivação dos transplantes. Sem a doação pelo responsável legal de um paciente em morte encefálica que não tenha expresso em vida sua negativa com a inscrição "não doador de órgãos e tecidos" na carteira de identidade ou na de motorista, não há efetivo doador de órgãos.
A população sempre foi solidária! Cabe aos profissionais ou cidadãos envolvidos com a transplantação, formal ou informalmente, esclarecer todo o processo, mostrando sua seriedade, transparência e importância social.

Como funciona o sistema de captação de órgãos

1)Identificação do Potencial Doador
Um potencial doador é o paciente que se encontra internado num hospital, sob cuidados intensivos, por injúria cerebral severa causada por acidente com traumatismo craniano, derrame cerebral, tumor e outros, com subseqüente lesão irreversível do encéfalo.

2)Notificação
O hospital notifica a Central de Transplantes sobre um paciente com suspeita de morte encefálica (potencial doador) e a Central de Transplantes repassa a notificação para uma OPO (Organização de Procura de Órgão).

3) Avaliação
A OPO se dirige ao Hospital, avalia o doador com base na história clínica, antecedentes médicos e exames laboratoriais, a viabilidade dos órgãos bem como a sorologia para afastar a possibilidade de doenças infecciosas, e testa a compatibilidade com prováveis receptores. A família é consultada sobre a doação.

4) Informação do Doador Efetivo
Terminada a avaliação, quando o doador é viável, a OPO informa a Central de Transplantes e passa as informações colhidas.

5) Seleção dos Receptores
A Central de Transplantes emite uma lista de receptores inscritos, selecionados em seu cadastro técnico e compatíveis com o doador.

6) Identificação das Equipes Transplantadoras
A Central de Transplantes informa as equipes transplantadoras sobre a existência do doador e qual paciente receptor foi selecionado na lista única em que todos são inscritos por uma equipe responsável pelo procedimento do transplante.

7) Retirada dos Órgãos
As equipes fazem a extração no hospital (OPO) onde se encontra o doador, em centro cirúrgico, respeitando todas as técnicas de assepsia e preservação dos órgãos. Terminado o procedimento, elas se dirigem aos hospitais para procederem à transplantação;

8) Liberação do Corpo
O corpo é entregue à família condignamente recomposto.

Depoimento de uma pessoa que já realizou o transplante

domingo, 1 de novembro de 2009

Por dentro do assunto

Onde, como, o que é? Duvidas constantes nos perseguem, e ai o que fazer, como agir? Informamos pra vocês agumas coisinhas que nos incomodam quando o assunto é transplante de órgãos, para que fiquem por dentro do assunto e tambem para que possam tomar uma atitulde e dizer EU SOU DOADOR, EU POSSO SALVAR UMA VIDA!.



TRANSPLANTES E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS

1- O QUE É TRANSPLANTE?

Transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na troca de um órgão (coração, rim, pulmão e outros) de um paciente doente (Receptor) por outro órgão normal de alguém que morreu (Doador). Os transplantes inter-vivos são realizados com menos freqüência

Os transplantes são realizados, somente, quando outras terapias já não dão mais resultados. Para alguns, portanto, é o único tratamento possível que possibilite continuar vivendo.



2- O QUE É DOAÇÃO DE ORGÃOS E TECIDOS?

A doação de órgãos é um ato pelo qual você manifesta a vontade de que, a partir do momento de sua morte, uma ou mais partes do seu corpo (órgãos ou tecidos), em condições de serem aproveitadas para transplante, possam ajudar outras pessoas.



3- QUEM PODE SER DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS?

Cerca de 1% de todas as pessoas que morrem são doadores em potencial. Entretanto, a doação pressupõe certas circunstâncias especiais que permitam a preservação do corpo para o adequado aproveitamento dos órgãos para doação.

É possível também a doação entre vivos no caso de órgãos duplos. É possível a doação entre parentes de órgãos como o Rim, por exemplo. No caso do Fígado, também é possível o transplante intervivos. Neste caso apenas uma parte do Fígado do doador é transplantado para o receptor. Este tipo de transplante é possível por causa da particular qualidade do Fígado de se regenerar, voltando ao tamanho normal em dois ou três meses. No caso da doação inter-vivos, é necessária uma autorização especial e diferente do caso de doador cadáver.

Não existe limite de idade para a doação de córneas. Para os demais órgãos, a idade e história médica são consideradas.



4- QUEM NÃO PODE SER DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS?

Não podem ser considerados doadores pessoas portadoras de doenças infecciosas incuráveis, câncer ou doenças que pela sua evolução tenham comprometido o estado do órgão. Os portadores de neoplasias primárias do sistema nervoso central podem ser doadores de órgãos.

Também não podem ser doadores: pessoas sem documentos de identidade e menores de 21 anos sem a expressa autorização dos responsáveis.



5- QUANDO PODEMOS DOAR?

A doação de órgãos como Rim e parte do Fígado pode ser feita em vida.

Mas em geral nos tornamos doadores quando ocorre a MORTE ENCEFÁLICA. Tipicamente são pessoas que sofreram um acidente que provocou um dano na cabeça (acidente com carro, moto, quedas, etc).



6- QUERO SER DOADOR(A), A MINHA RELIGIÃO PERMITE?

Todas as religiões encorajam a doação de órgãos e tecidos como uma atitude de preservação da vida e um ato caridoso de amor ao próximo. A maioria das religiões, contudo, consideram este ato uma decisão individual de seus seguidores. As Testemunhas de Jeová, para quem a transfusão de sangue, por exemplo, não é admissível, a doação de órgãos e tecidos "limpas" de sangue é permitida.



7- SOU DOADOR(A), MAS QUANDO CHEGUEI AO HOSPITAL NÃO ENCONTRARAM MEUS DOCUMENTOS NEM OS MEUS FAMILIARES. OS MEUS ÓRGÃOS SERÃO RETIRADOS PARA TRANSPLANTES?

Não. Pessoas sem identidade, indigentes e menores de 21 anos sem autorização dos responsáveis, não são consideradas doadoras.



8- O QUE É MORTE ENCEFÁLICA?

Morte encefálica significa a morte da pessoa.

É uma lesão irrecuperável do cérebro após traumatismo craniano grave, tumor intracraniano ou derrame cerebral.

É a interrupção definitiva e irreversível de todas as atividades cerebrais. Como o cérebro comanda todas as atividades do corpo, quando morre, os demais órgãos e tecidos também morrem. Alguns resistem mais tempo, como as córneas e a pele. Outros, como o coração, pulmão, rim e fígado sobrevivem por muito pouco tempo.

A morte encefálica pode ser claramente diagnosticada e documentada através do exame da circulação cerebral por técnicas extremamente seguras, embora existam opiniões contrárias a esta afirmativa.

Por algum tempo, as condições de circulação sangüínea e de respiração da pessoa acidentada poderão ser mantidas por meios artificiais, ou seja, atendimento intensivo (em UTI, com medicamentos que aumentam a pressão arterial, respiradores artificiais, etc), até que seja viabilizada a remoção dos órgãos para transplante.

É importante que não se confunda morte encefálica com COMA. O estado de coma é um processo reversível. A morte encefálica não. Do ponto de vista médico e legal, o paciente em coma está vivo. Para que a morte encefálica seja confirmada é necessário o diagnóstico de, pelo menos, dois médicos, sendo um deles neurologista. Estes médicos não podem fazer parte da equipe que realizam o transplante. Os exames complementares, ou seja, além do exame clínico, para confirmar a morte encefálica, que inclui eletroencefalograma e arteriografia cerebral, são realizados, pelo menos duas vezes, com intervalo de seis horas. Só então a morte encefálica pode ser confirmada.



9- A MORTE ENCEFÁLICA PODE SER DIAGNOSTICADA EM QUALQUER HOSPITAL?

Em princípio sim, desde que o hospital conte em seu quadro de profissionais com um neurologista e os equipamentos necessários para a realização dos exames. Contudo, no Brasil as coisas ainda não são assim. Mas, excepcionalmente, ao suspeitar-se de ocorrência de morte encefálica, uma equipe e equipamentos podem ser deslocados de um hospital para outro.



10- QUANTO TEMPO APÓS A MORTE ENCEFÁLICA PODE-SE ESPERAR PARA O TRANSPLANTE?

O Coração e pulmão são os órgão que menos tempo podem esperar. O intervalo máximo entre a retirada e a doação não deve exceder quatro horas. O ideal é que as duas cirurgias ocorram simultaneamente. O Fígado resiste até 24 horas fora do organismo. O Rim é bastante resistente, se comparado a outros. A espera pode ser de 24 a 48 horas. O Pâncreas, como no caso do coração e do pulmão, as cirurgias de retirada e doação, tem de ser feitas quase que simultaneamente. A Córnea pode permanecer até sete dias fora do organismo, desde que mantida em condições apropriadas de conservação.





11- QUEM RETIRA OS ÓRGÃOS DE UM DOADOR?

Desde que haja um receptor compatível, a retirada dos órgãos para transplante é realizada em um centro cirúrgico, por uma equipe de cirurgiões com treinamento específico para este tipo de ocorrência. Após o procedimento o corpo é devidamente recomposto e liberado para os familiares.



12- COMO FUNCIONA O SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÓRGÃOS?

Se existe um doador em potencial (vítima de acidente com traumatismo craniano, derrame cerebral, etc..) a função vital dos órgãos deve ser mantida pelo hospital. É realizado o diagnóstico de morte encefálica e a Central de Transplantes é notificada. A Central localiza e entra em entendimento com a família do doador e pede o seu consentimento mesmo que a pessoa tenha manifestado em vida o desejo de doar. Após isso, o doador é submetido a uma bateria de exames para verificar se não possui doenças que possam comprometer o tranplante (hepatite, AIDS, etc.,,) Com tudo OK, a Central de Transplantes faz um cruzamento de compatibilidade com os pacientes em lista de espera, identifica um receptor e aciona as equipes de captação e de transplante.



13- QUEM SÃO BENEFICIADOS COM OS TRANSPLANTES?

Atualmente milhares de pessoas, inclusive crianças, contraem doenças cujo único tratamento é a implantação de um órgão novo. A espera por um doador, que as vezes não aparece, é angustiante. A lista de candidatos a um transplante de pulmão, por exemplo, é renovada a cada ano porque, simplesmente, a maioria dos candidatos morre sem conseguir um doador.



14- QUEM RECEBERÁ OS ÓRGÃOS DOADOS?

Os receptores são escolhidos com base em testes laboratoriais que confirmam a compatibilidade entre o doador e o receptor. Quando existe mais de um receptor compatível, a decisão de quem receberá, passa por critérios tais como tempo de espera e urgência do procedimento. Em princípio, a família do doador não escolhe o receptor. Na escolha do receptor, os médicos, o candidato a transplante e sua família levam em conta fundamentalmente os seguintes aspectos para considerar o transplante: Todas as terapias foram consideradas ou excluídas? O paciente não sobreviverá sem o transplante? O candidato a receptor não tem outros problemas de saúde que inviabilizem o transplante? O candidato tem condições para assumir um estilo de vida que inclui o uso contínuo de medicamentos e freqüentes exames laboratoriais/hospitalares após o transplante?



15- TENHO UM FAMILIAR EM LISTA DE ESPERA PARA UM TRANSPLANTE DE CORAÇÃO. SOU TOTALMENTE COMPATÍVEL COM ELE. SE EU MORRER O MEU CORAÇÃO PODE SER DOADO PARA ELE?

Em princípio não. Nem o doador, nem seus familiares, podem escolher o receptor. A não ser no caso de órgãos duplos e doação em vida. Caso contrário, o receptor será sempre indicado pela Central de Transplantes com base em uma série de critérios que incluem: 1) compatibilidade sangüínea; 2) histocompatibilidade; 3) peso e tamanho do órgão. Encontrado(s) o(s) paciente(s) que apresentam o perfil adequado para receber o órgão, será escolhido aquele em estado mais grave. Este poderá ser (ou não) o seu familiar. Em resumo: nós não podemos escolher quem receberá os órgãos de um familiar com morte encefálica. Isso evita a comercialização de órgãos.



16- TENHO UM FAMILIAR ESPERANDO UM TRANSPLANTE. MATEMATICAMENTE FALANDO, QUAL A CHANCE DELE ENCONTRAR UM DOADOR?

É muito difícil responder a esta questão do ponto de vista de probabilidade. Mas considere inicialmente que ele seja do grupo sangüíneo A+. Na população brasileira, a chance de encontrar outro indivíduo A+ é algo em torno de 35%, ou seja, 35 em 100 ou 0,35. Mas o doador e o receptor devem ser também compatíveis em termos de tecido. Para a histocompatibilidade a chance de encontrar indivíduos semelhantes é menor. A probalidade de que você tenha um irmão histocompatível é de 25% (0,25) mas entre não parentes esta chance diminui para um valor entre 1 em 10.000 e 1 em 100.000 (ou entre 0,0001 e 0,00001). Para os matemáticos, neste caso, a probabilidade de se encontrar um indivíduo compatível (considerando a maior chance) para o grupo sangüíneo e para tecidos é o produto,

0,25 x 0,0001 x ? x ? = 0,00035

Ou de 3 a 4 em 100.000. Mas não é só isso. Considere, ainda, que o doador dever ser uma pessoa cujo órgão a ser doador tenha peso e tamanho semelhante ao do receptor e tenha sofrido um acidente cerebral e tenha boas condições de saúde e tenha chegado vivo a um hospital e cuja equipe médica tenha tido a boa vontade de entrar em contato com uma Central de Transplante. Estas variáveis são de difícil mensuração. Elas são representadas pelas interrogações acima e são números menores do que um. Logo, matematicamente falando, a chance de alguém encontrar um doador plenamente compatível é pequena. Contudo, existe e muitas pessoas recebem um órgão por transplante, vive muito tempo para a sua felicidade e a de seus familiares. Agora pense no seguinte: se você opta em ser NÃO DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS, você realmente está contribuindo para diminuir a chance de sobrevivência de outra pessoa e a felicidade de muitos.





16- AS PESSOAS TÊM VIDA NORMAL APÓS UM TRANSPLANTE?

Após o transplante, os receptores devem tomar diversos medicamentos. Os mais importantes são para evitar a rejeição. Estes medicamentos, que devem ser usados pelo resto da vida, podem causar uma série de efeitos não desejáveis. Para combater estes paraefeitos outras drogas devem ser administradas. As estatísticas mundiais mostram que a maioria (mais de 80%) das pessoas que receberam um coração por transplante, por exemplo, retornam as suas atividades anteriores. Alguns praticam esportes, existindo até federações de transplantados.



17- QUAL O RISCO DOS TRANSPLANTES?

Existe os riscos inerentes a uma cirurgia de grande porte em si. Superada esta fase, os principais problemas após o transplante de órgão são infecção e REJEIÇÃO. Para prevenir estes efeitos a pessoa usa medicamentos que debilitam o sistema imunológico. Por esta razão, estão mais sujeitos a infecções e a outras doenças "oportunistas".



18- O QUE SIGNIFICA REJEIÇÃO?

O nosso sistema imunológico nos protege de infecções em geral. As células deste sistema percorrem cada parte de nosso corpo procurando e conferindo se algo difere do que elas estão acostumadas a encontrar. Estas células identificam um órgão transplantado como sendo algo diferente do resto do corpo e ameaçam destruí-lo. Numa linguagem figurada, isto é REJEIÇÃO. É, ao lado da DISPONIBILIDADE DE DOADORES, uma das grandes barreiras ao sucesso dos programas de transplantes. Em 1983, a barreira da REJEIÇÃO foi parcialmente superada com o advento de uma poderosa droga - a Ciclosporina - que, combinada com outras, inibe as células do sistema imunológico na sua tentativa de destruir o órgão transplantado. Como a rejeição pode ocorrer em qualquer tempo após o transplante, a maioria dos transplantados usa medicamentos imunossupressores pelo o resto de suas vidas. Os principais medicamentos utilizados são aqueles do grupo da Ciclosporina, Azatioprina e da Prednisona e são administrados de forma balanceada pelos médicos para cada caso. A rejeição ocorre na maioria dos casos de transplantes e pode ser mais facilmente controlada quanto maior for a compatibilidade entre o doador e o receptor. Em primeiro lugar, eles devem ter o mesmo tipo sangüíneo, ou seja, os mesmos fatores do sistema ABO e Rh. Em segundo, devem ter, ainda, a maior semelhança possível em relação ao sistema genético HLA. No momento do transplante, o objetivo da Central de Transplante é compatibilizar os doadores e receptores para o HLA, procurando os idênticos ou os mais próximos possíveis, em especial quanto estes não tem qualquer grau de parentesco. É uma questão de sorte: a chance de se encontrar um doador compatível varia entre um para 10 mil e um para 100 mil entre pessoas não aparentadas.



19- QUEM FAZ TRANSPLANTE NO BRASIL?

Segundo o Ministério da Saúde, existe no Brasil cerca de 117 instituições cadastradas para realizar transplante de órgãos: Rim (111), Medula óssea (13), Fígado (6), Coração (9) e Pulmão (3). Deste total, 40 estão localizados na Região Sul (PR, SC, RS) dos quais, 20 são Hospitais do Rio Grande do Sul.



20- QUEM PAGA A CONTA DOS TRANSPLANTES?

Em geral, os transplantes são pagos pelo Serviço Único de Saúde (SUS). A maioria dos planos privados de saúde não cobre este tipo de atendimento. À propósito, a grande maioria destes planos somente funcionam adequadamente enquanto você não precisa deles. No ano de 1996, foram realizados pelo SUS, segundo o Ministério da Saúde, 1954 transplantes de órgãos: Rim (1501), Coração (65), Fígado (115), Pulmão (6), Medula óssea (267), além de 1551 de Córnea. No primeiro quadrimestre de 1997 foram realizados 569 transplantes de órgãos no Brasil, sendo 420 de Rim, 15 de Coração, 40 de Fígado, 01 de Pulmão e 93 de Medula óssea.

Quando você estende a mão para doação de orgãos, a linha da vida de outra pessoa continua.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Transplantes de córneas em VCA.


O Ministério da Saúde credenciou em Vitória da Conquista um novo centro especializado em retirada e transplante de córneas. O Hospital dos Olhos de Vitória da Conquista estará contribuindo para o aumento do número de atendimentos no Brasil e na Bahia.

A Sesab promoveu cursos na Universidade do Sudoeste da bahia (UESB), treinou profissionais de equipes de saúde da família e agentes comunitários de saúde (ACS), no intuito de impulsionar as atividades de transplante na região.


Fonte: Nildo Freitas

Vitória da Conquista avança na área de transplante de órgãos


Já foi implantado, em abril deste ano, em Vitória da Conquista a Comissão Intra-Hospitalar de Transplante de Órgãos (CIHTO) do Hospital Geral, o Hospital de Base. A Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), contabiliza mais um importante avanço no processo de interiorização das atividades de captação e transplantes de órgãos.

A CIHTO funciona como uma Organização de Procura de Órgãos (OPO), atuando nas unidades hospitalares da região.
Fonte: Bahia em Foco