quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Depoimentos de pessoas receptoras de orgãos

Novas regras





O Ministério da Saúde divulgou que pessoas com menos de 18 anos passarão a ter prioridade para receber órgãos de doadores da mesma faixa etária. Segundo o ministério, isso se dá devido à maior expectativa de vida desses pacientes.

De acordo com o novo regulamento do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que foi publicado em Diário Oficial. De acordo com as novas regras, os doadores que tenham alguma doença transmissível poderão doar para pacientes que tenham o mesmo vírus.

A partir de agora o SUS (Sistema Único de Saúde) vai financiar a retirada e o processamento de pele, que é uma ação inédita no sistema. O transplante de pele é uma modalidade de tratamento salvadora de vidas, inclusive de grandes queimados. Ela não é propriamente um transplante, é uma espécie de curativo biológico, uma casa de passagem até que a pessoa consiga se recuperar e produzir de novo a sua própria pele.

Crônica de um transplante


"Nunca imaginei que minha saúde fosse me decepcionar. Tinha muitos sonhos para o futuro, e, apesar das adversidades, enfrentei as intempéries que a vida me propôs. Entretanto veio o golpe fatal: irei precisar de um temido e complicado transplante dos dois pulmões, e somente essa seria a saída para a melhoria da minha qualidade de vida, que, durante esse último ano, tem sido bastante difícil.

No início foi um choque: lágrimas e lágrimas rolaram na nossa família e entre os amigos. Mas foi só o início de um processo de grandes mudanças na minha vida, de reafirmar outros valores escondidos na minha personalidade. Foi como reerguer um prédio: no pilar direito foi erguido um trabalho de reabilitação física na Santa Casa, responsável por eu voltar a andar calmamente e fazer algumas pequeníssimas atividades diárias. No pilar esquerdo, o apoio dos meus pais, irmãos, parentes e amigos. A estrutura do meu prédio está pronta, só falta “trocar a ventilação”.

Sorte minha que o prédio é jovem e o trabalho foi pouco. Ela agora será desviada para outra angústia: encontrar um doador compatível. Infelizmente, conto com a sorte para mudar de vida. Eu e aproximadamente 2500 pessoas. Dependemos de um gesto de carinho das famílias dos doadores, do profissionalismo e do comprometimento dos médicos e profissionais da área, para que se sensibilizem com a nossa causa, pois só queremos poder voltar a caminhar, correr, dirigir, enxergar, viajar, coisas que qualquer um tem direito.

Assim digo: foi um alívio entrar para a lista de transplantes. Um alívio? Sim, tenho a chance de liquidar o sufoco da falta de ar e de poder jogar o tão sonhado futebolzinho com os meus amigos. Estou com a oportunidade de reconstruir a minha moradia corporal e para isso preciso de um doador. E isso irá acontecer. Deus vai me ajudar."

Ajude-me a espalhar o meu exemplo, que ele sirva para a conscientização. Propague nosso lema: "Doação de Órgãos: um ato de amor à vida" dizendo à sua família e ao seu médico que você é um doador. Mande esse e-mail para quantas pessoas forem possíveis. Agradeço seu carinho e a sua atenção.
Luís Fernando Kalife Júnior
Estudante de Letras da UFRGS
Texto publicado no Caderno Vida – Jornal Zero Hora – 26/01/2008

Oração de um doador desconhecido



Não chamem o meu falecimento de leito da morte, mas de leito da vida.
Dêem a minha visão ao homem que jamais viu o raiar do sol, o rosto de uma criança ou o amor nos olhos de uma mulher.
Dêem o meu coração a uma pessoa cujo coração apenas experimentou dias infindáveis de dor.
Dêem o meu sangue ao jovem que foi retirado dos destroços de seu carro, para que ele possa viver para ver os seus netos brincarem.
Dêem os meus rins às pessoas que precisam de uma máquina para viver de semana em semana.
Retirem os meus ossos, cada músculo, cada fibra e nervo do meu corpo e encontrem um meio para fazer uma criança inválida caminhar.
Explorem cada canto do meu cérebro.
Retirem as minhas células, se necessário, e deixem-nas crescerem para que, um dia, um menino mudo possa ouvir o gritar em um momento de felicidade ou uma menina surda possa ouvir o barulho da chuva de encontro à sua janela.
Queimem o que restar de mim e espalhem as cinzas ao vento, para que elas ajudem as flores a brotarem.
Se tiverem que enterrar algo, que sejam meus erros, minhas fraquezas e todo o mal que fiz aos meus semelhantes.
Dêem os meus pecados ao diabo.
Dêem a minha alma a Deus.
Se, por acaso, desejarem lembrar-se de mim, façam isso com ação ou palavra amiga a alguém que precise de vocês.
Se fizerem tudo o que pedi, estarei vivo para sempre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Igreja no Brasil posiciona-se sobre doação de orgãos




O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reunido em Brasília, divulgou uma nota esclarecendo a posição da Igreja Católica sobre a doação de órgãos de pessoas com morte encefálica comprovada.

"Vemos na doação voluntária de órgãos um gesto de amor fraterno em favor da vida e da saúde de próximo. É uma prova de solidariedade, grandeza e espírito e nobreza humana", afirma a nota assinada pelo presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, e pelo secretário-geral da entidade, Dom Dimas Lara Barbosa.

Os bispos recordam que a posição da Igreja está expressa no Catecismo da Igreja Católica que classifica como "legítima e meritória" a doação gratuita de órgãos após a morte. Lembram que esta mesma posição é assegurada também pela encíclica Evangelium vitae.

"A doação de órgãos não contraria à fé cristã na ressurreição final, pois 'Deus dá vida aos mortos e chama à existência o que antes não existia' (Rm 4,17)", sublinha a nota.

A CNBB incentiva as pessoas e as famílias "a que, livre, conscientemente e com a devida proteção legal, doem órgãos como gesto de amor solidário em consonância com o evangelho da vida". A nota chama a atenção, no entanto, para respeito aos princípios éticos que devem orientar esta prática. "A doação de órgãos exige rigorosa observância dos princípios éticos que proíbem a provocação da morte dos doadores, a comercialização e o tráfico de órgãos".

Entrevista do Dr. Drauzio Varella ao Dr. Elias David Neto sobre o tráfico de orgãos


Tráfico de órgãos

Drauzio – Algumas vezes, os jornais veiculam notícias sobre o tráfico de órgãos. Isso de fato acontece?

Elias David Neto – O governo americano comandou uma investigação em vários países do mundo para averiguar casos de rapto de crianças e adultos para a remoção de órgãos que culminou num documento chamado “Rapto de Crianças para Transplante – uma Lenda Urbana Moderna”.Nesse documento, o investigador do FBI relata que a mesma história é repetida igualzinho em todos os países. Alguns jornalistas sequer mudam o nome das personagens. O João brasileiro é o John americano e o Juan espanhol; a Maria do Brasil é a Mary dos Estados Unidos e a Marie da França. O rapto de pessoas para extrair seus órgãos é a lenda urbana moderna.Denúncias sem comprovação sobre o trafico de órgãos geram desconfiança na população e espalham o medo de que o sistema não funcione. O Sistema de Transplante Brasileiro é transparente e um dos mais confiáveis do mundo. Nunca houve em nenhuma delegacia do país relato, notificação ou registro de alguém que tivesse sido raptado e devolvido depois sem um órgão. Fala-se muito em tráfico de órgãos. Isso não existe como não existe a possibilidade de furar o sistema de lista única. Desafio um jornalista investigativo a demonstrar que pode furá-la. Desafio-o também a tornar público o resultado de sua investigação, qualquer que seja ele. Por certo, isso incentivaria e muito a doação de órgãos.

Drauzio – Há uma CPI em andamento sobre o tráfico de órgãos no Brasil?

Elias David Neto - No Brasil, está instalada uma CPI sobre o tráfico de órgãos que na verdade investiga o tráfico de pessoas. Se alguém sai do país para doar um órgão em outro lugar em troca de vantagens não é responsabilidade do Sistema Nacional de Transplante. Foi uma decisão individual e particular, embora faça parte do tráfico que corrompe as pessoas. Minha esperança é que essa CPI investigue fundo e, se a conclusão for que não há tráfico de órgãos, a imprensa seja convocada para divulgar os resultados porque assim estará contribuindo positivamente para a transplantação brasileira de órgãos .

O que a igreja pensa da doação de órgãos?

Transplantar um órgão para curar um doente (transfusão, transplante de medula, de pele, de rins, do coração ...) é um ato médico cuja finalidade é boa em si própria. No entanto, esta prática só pode ser feita mediante certas condições.

Quando se tratar de uma doação feita por uma pessoa viva (sangue, medula, rim) deve ser evitada qualquer transação comercial. Ninguém pode dispor do seu próprio corpo ou do de outrem para com ele ganhar dinheiro, mesmo que seja para prestar um serviço. A doação de esperma ou de óvulos é de outro tipo; o objetivo não é curar mas transmitir vida, e esta só deve ser feita na relação conjugal dos esposos; esta doação é contrária ao respeito pelo vínculo conjugal, mesmo que seja por amor.

Em relação ao corpo de uma pessoa que já morreu, ninguém pode tirar-lhe nenhum órgão contra a vontade da família ou se, em vida, a própria pessoa se manifestou contra.

No que diz respeito a alguém prestes a morrer ou em estado de coma profundo, não se podem tirar órgãos sem se ter a certeza de que a pessoa está morta (segundo a legislação francesa são necessários dois eletroencefalogramas feitos com 24 horas de intervalo). Qualquer prática que contrarie estas regras opõe-se ao respeito que é devido a cada pessoa.


Testemunho

Vítima de uma disfunção medular, o V nosso filho mais velho morreu quando tinha seis anos. O seu irmão mais novo tinha a mesma doença e nós procuramos desesperadamente um doador de medula que fosse compatível com a do nosso filho.
Foi então que encontramos um jovem padre, que nos ajudou muito durante deste problema. Tornamo-nos fiéis participantes de um pequeno grupo de oração. Aí, muitas vezes no meio de lágrimas, rezávamos regularmente pelo nosso filho.
Um dia, a minha mulher partilhou comigo a sensação que tinha de que devíamos ter outro filho. Eu permanecia indeciso, pois estava muito marcado por todos estes problemas. Com o nosso amigo padre, rezamos e pensamos muito. Por fim, decidimos entrar pelo caminho da confiança e entregar esta gravidez a Deus. Novo meses depois, a minha mulher deu à luz uma menina. Os testes de compatibilidade da medula espinal do bebê com a do seu irmão, eram positivos ... Vimos a maravilhosa ação do Senhor. Ele fortaleceu a nossa fé, pois permitiu-nos ver o futuro do nosso filho com confiança. No entanto o seu estado agravava-se, o transplante tornava-se urgente.
Christophe foi para o hospital ... Recebeu em boas condições, o transplante de medula que os médicos retiram da sua irmã. Depois de alguns meses de convalescência e de alguns momentos difíceis, o nosso filho recuperou as forças e as idas ao hospital foram-se espaçando.
Hoje ele está salvo: brinca, corre e vai à escola normalmente. Nós estamos sempre em ação de graças porque tudo isto foi obra de Deus, presente e agindo no meio de nós.

Thierry